Agora com a flexibilização do distanciamento social surge a questão: Coronavírus acabou? e o distanciamento social? Faço uma reflexão sobre vida, morte, medo e a reação das pessoas com a flexibilização do distanciamento social.
Como eu disse anteriormente em Distanciamento Social devido à Covid 19 o distanciamento variou de acordo com o ambiente e as possibilidades de cada um. Muitos necessitaram voltar a trabalhar antes da flexibilização por questões econômicas; outros grupo de risco, tiveram que respeitar o distanciamento de forma mais rígida.
No entanto para todos, foi um período de adaptação às condições impostas pela pandemia e que trouxe à consciência o medo e angústia frente a própria morte ou possível luto por pessoas queridas.
Principalmente porque ainda existe a angústia de não ter um tratamento comprovado e também por coronavírus estar inicialmente mais associada à morte e menos à cura.
Vida, Morte e Medo
Nascimento e morte são demarcações do inicio e fim do processo de vida.
Enquanto o nascimento é em geral comemorado, o mesmo não acontece com o final da vida que gera desconforto e medo.
A morte pode ser compreendida como uma passagem para outro estágio; o fim de tudo ou mesmo o cumprimento de uma missão aqui na terra; “O significado, as explicações, os rituais de passagem entre a vida e a morte e o processo de enlutamento variam conforme cada sociedade e suas diferenças culturais e religiosas, bem como as circunstâncias em que ocorreram a morte.” (FioCruz Apostila cartilha_luto. pdf).
Morte não é uma ameaça em si; não é necessariamente um momento a ser temido; o que ameaça as pessoas é o medo do que desconhece e possivelmente de vivenciar sofrimento.
O medo é um sinal de alerta de que existe uma ameaça, real ou imaginária. Nos prepara para lutar ou fugir do que tememos: mudanças, separações e do que traz muito sofrimento ou não nos achamos capazes de enfrentar; Nem sempre podemos atuar externamente mas, está a nosso alcance fortalecer dentro nós recursos para enfrenta-lo; tais como conscientizar-se do que de fato é temido; aceitar que podemos sentir medo e reconhecer a resposta que damos para ampliar ou diminuir nossas forças para superá-lo.
Momento atual
As mortes da pandemia nos evidenciam que tudo é impermanente.
Porém, a morte não atende à nossa vontade, não é negociável quanto à seu tempo e nem obedece a forma que gostaríamos que acontecesse.
A morte traz a possibilidade de passar a limpo em curtíssimo espaço de tempo o que foi vivido; de avaliar a vida quanto à satisfações, realizações, arrependimentos ou remorsos; quanto às conexões estabelecidas e aos sentimentos vividos ou não e expressos ou não; é validar os laços de amor vividos ou não nas relações.
O que aprendemos com o coronavírus? e com o distanciamento social?
Se encararmos este período de pandemia como um aprendizado temos muito a refletir e melhorar em nossa vida.
Tivemos e ainda temos a oportunidade de valorizar a vida; a saúde que temos ou os tratamentos possíveis; os vínculos e as relações que estabelecemos e melhorar em nós o que quisermos; aprender a refletir o que de fato precisamos? Mais dinheiro? Mais poder? Melhor convivência conosco mesmo e com os nossos? e finalmente mas não menos importante, temos a oportunidade de aprender a lidar com o stress que a privação nos trouxe.
Sabemos que toda privação nos remete ao sofrimento. E que conscientizar-se e reconhecê-lo nos ajuda a mobilizar recursos que todos temos dentro de nós para superá-lo de forma construtiva.
Coronavirus acabou? e o distanciamento social?
Será que todo o aprendizado adquirido até agora será perdido com a flexibilização?
Há pessoas que “se esqueceram” dos riscos envolvidos e passaram a viver apenas a satisfação do desejo privado, a liberdade de ir e vir; e outros que ainda continuam apegadas ao medo e sentem-se mais seguras em casa e distanciadas negando assim, a possibilidade de flexibilização.
Vale a pena ressaltar que nem o medo e nem a alienação da realidade são boas estratégias diante da ameaça que ainda temos, a consciência sim.
Não dá para negar que ainda existe uma ameaça real pois o coronavírus ainda é presente em nossa vida.
Mas “podemos reaprender a ficar confortáveis com nossa incerteza e a reagir com flexibilidade às nossas experiências de dor, sofrimento e medo – sem lutar contra elas ou impor resistência”. (Thupten Jinpa)
E cada um sabe a melhor forma para enfrentar o medo. Minha sugestão é que o retorno seja paulatino e de forma segura; manter a higienização das mãos; uso de máscaras; e evitar aglomerações; e ainda reconhecer e respeitar os limites individuais.