No artigo Pais separados: quando os filhos vão morar com o pai abordo a saída materna e sugiro orientações familiares.
Há ocasioes, seja por morte materna ou separação e divórcio do casal, em que o pai assume o cuidado dos filhos.
Tem sido mais comum um casal procurar ajuda terapêutica por dificuldades afetivas ou desgaste no relacionamento. Há casos em que há possibilidade de reconstrução deste vínculo, em outros porém, a escolha é a separação.
A separação quebra o equilíbrio familiar já estabelecido e inevitavelmente traz sofrimento para todos os envolvidos, adultos e crianças.
Mas pergunto: e os conflitos vividos pelo casal geram sofrimento a todos inclusive à criança? Sim, e é possível que a criança apresente dificuldade escolar, adoecimento ou alteração no comportamento; São formas de unir os pais para cuidar dela; é sua forma infantil e inconsciente de deslocar a atenção dos conflitos familiares.
Ser a responsável pela união dos pais, pode ser tão difícil, quanto lidar com a notícia de separação deles.
Não há um momento certo ou errado para compartilhar esta decisão com a criança.
Mas, é importante que diante da delicadeza da situação, os pais a isentem da culpa dos conflitos vividos na família e da responsabilidade de uní-los. Para a criança é importante ter claro que os pais se separam, mas o afeto de cada um por ela permanece.
Pais separados: quando os filhos vão morar com o pai
Novas perguntas surgem: Quem sairá da casa? Quem fica com a criança? A mãe? o pai? avós?
São perguntas que não tem uma resposta única. A família está em transformação e existem várias constituiçoes familiares. Nossa cultura ainda tem um pensamento tradicional de que é a mãe quem deve ficar em casa com a criança; mas temos que reconhecer que existem outras possibilidades e o pai permanecer com a criança é uma delas.
Sejam quais forem os motivos maternos para a saída são igualmente importantes para a mulher quanto seu papel de mãe; a busca de novas oportunidades profissionais; necessidade financeira; questões religiosas; outro relacionamento ou necessidade de se sentir reconhecida,
E para cuidar de seu bem estar emocional ela pode necessitar sair de casa para se reorganizar em seus papéis e em sua vida. Decisão nada fácil, pois lhe gera culpa por abandono dos filhos e temor da crítica interna e social por tal atitude.
Vale esclarecer que esta escolha não é abandono e sim uma busca de respeito, amor próprio e que poderá repercutir em melhor relacionamento com os filhos.
E se o pai, neste momento, for a pessoa emocional e materialmente mais estável, pode assumir esta função para amenizar a situação e interferências na vida infantil. É um recurso e uma nova oportunidade de reorganização, adaptação e bem estar familiar.
Como lidar com os sentimentos infantis
Passada a tristeza, o medo e a insegurança, em geral, as crianças conseguem ver ganhos nesta situação: duas casas, dois quartos, dois presentes de aniversário e até maior atenção de cada um dos pais, e se adapta ao novo funcionamento.
Ter a liberdade de falar sobre o assunto e expressar seus sentimentos ajuda a criança a elaborar uma situação que não cabe a ela interferir ou mudar; poder ver, falar e estar com a mãe quando desejar e, principalmente quando for possível, ajuda a matar a saudades, e neste sentido, a tecnologia tipo Skype e Hangouts, auxiliam muito.
E quando isso não for possível, os limites são fundamentais a uma boa relação mãe-filho: à criança, para conviver com o real e ter limites do que é ou não permitido naquele momento, e para a mãe, para evitar a culpa de não estar sempre presente e disponível para o filho.
Em relação à Escola
Sugiro aos pais, sempre que possível minimizarem outras situaçoes de mudanças e perdas para a criança, isto é, manter a escola, grupo de amigos e contatos com familiares. São referências de afeto importantes na vida infantil.
Quando os pais procuram uma escola para seu filho, procuram uma parceria. Assim, a escola precisa estar a par das mudanças ocorridas na família para entender e ajudar criança e adultos, se houver necessidade de algum auxílio emocional ou pedagógico.
E caso haja uma troca de escola é necessário estar atento à adaptação da criança ao novo sistema educacional, ao ensino, professores e a formação de amigos, aspectos importantes para o bem estar da criança neste ambiente.
Vale lembrar que o bem-estar ou a saúde da família está ligado A superação dos conflitos e temores vividos nesta nova situação. E quando esta acontece, a família efetivamente progride em seu desenvolvimento, caso contrário, ela regride ou permanece estacionada.
A mudança familiar
Se entendermos que a família é um grupo natural em constante mudança; que se diferencia de outros grupos pela natureza dos papéis que desempenham (pais, filhos e irmãos); pela natureza do vínculo; pelos padrões de interação e necessidade de permanecer unida; fica mais fácil compreendermos que mãe e pai, embora separadamente, tem uma nova oportunidade de reforçar os vínculos de afeto com a criança, e estabelecer novas formas de interação, tão necessários para que ela se sinta segura e acolhida.
Se separar de entes queridos “não é morrer para eles” e tampouco o inverso. É mais um recurso que favorece lidar com proximidade e distanciamento nas relações.
Não considero que a questão “sexo” ou “gênero” seja a mais importante, neste momento, para a reorganização familiar. Mas sim, a capacidade de participar da vida infantil, de se envolver em suas atividades, interesses e , principalmente, de lhe dar segurança emocional. E tanto a mãe quanto o pai, podem assumir esta função.
Trechos deste texto constam da entrevista dada à jornalista Fabiana Faria para o Portal Disney Babble.
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